Thursday, July 19, 2007



O Simbolismo Animal


Tratar alguém por nomes de pássaros, passar do galo ao asno...Algumas palavras de ternura: minha gata, meu gato, filhote, pombinha, pombinho, pantera...o vôo dos corvos sobre as planícies, língua de víbora, olho de lince, raposa velha, falcões, gaviões, lobo em pele de cordeiro... teimoso como uma mula, orgulhoso como um galo, esperto como um macaco...Expressões corrente que atestam a importância da presença animal na vida de todos nós diariamente. Forjam um bestiário abstrato, que povoa nossa fraseologia cotidiana e reafirmam, embora indiretamente, a natureza animal do ser humano.

Sem dúvida, desde a aurora dos tempos o ser humano amou e odiou o animal. Ele o fantasiou, invejou, rejeitou, humilhou e exaltou. Depois de procurar parecer-se com ele, encontrando filiação mítica comum, o homem tentou colocá-lo sob seu domínio. Assim, a domesticação dos animais passou a assemelhar-se mais e mais à escravidão. Inicialmente amigo ou inimigo do homem, o animal acabou tornando-se sua coisa, seu joguete. Notemos, aliás, que a atitude adotada pelo homem com o animal é idêntica à que adotou com a mulher. Geralmente só sabe ser odioso ou idealizar. Sem dúvida, é um animal curioso!Considerando o animal como propriedade ou mercadoria, o homem privou-o de sua liberdade primeira: a de existir como ser independente.

A relação ser humano/animal sempre dependeu principalmente da psicologia profunda do homem. O cão, por exemplo, pode ser o melhor amigo do homem e também seu bode expiatório. Porque, se o animal pode tornar-se monstruoso no imaginário humano, o único monstro é o próprio homem.A inteligência é, com efeito, faca de dois gumes: eleva o homem e também o rebaixa abaixo da Terra. É verdade que a baixeza humana. Enquanto os animais comunicam, o homem somente fala, e, o mais das vezes, para si próprio.

Sua inteligência levou-o a considerar-se senhor do planeta. De senhor passou a tirano, pilhando as riquezas naturais, violando a Terra e a Natureza e saqueando o patrimônio do qual julga-se depositário único.O homem se considera superior aos animais. Trago a convicção profunda de que os animais não nos são inferiores em nada. Saímos do mesmo reino que eles e deveríamos andar em harmonia. Assim seria, se nos preocupássemos menos com o desejo de lucro e com a obscura necessidade de destruir.Saqueamos a terra que herdamos e destruímos a vida maravilhosa que a escolheu para domicílio. O homem é com certeza o mais impiedoso predador do planeta, e os animais ditos "selvagens" não podem, claro, rivalizar-se com ele nesse terreno.

O animal age por instinto. E que é o instinto senão inteligência natural e inata, que o homem também deve ter possuído em idades remotas? É certo que as relações entre o homem e o animal - outrora mais harmoniosas, sem dúvida - degradaram-se com o tempo. O drama do ser humano é que só age a partir de sua celebridade orgulhosa, e se esquece da inteligência, do coração, a qual, não obstante, é o que há de melhor nele.Nessas condições, como esperar que encontre seu lugar na Natureza e no Universo?

Esse lugar, que lhe cabe por direito, ele o perdeu por seus atos antinaturais, ele, que só pensa em juntar riquezas materiais e rejeita as da alma infinitas. E a paixão - amor ou ódio - inspirada ao homem pelo animal não tem algo da parcela de divindade que o ser humano não cessa de perder e procurar? Porque essa Natureza Cósmica do homem não é senão a Natureza mesma, a Natureza do animal, que o ser humano inveja e rejeita.

O animal tem, pois, lugar todo particular no imaginário humano. O espaço do pensamento que ele ocupa é importante. O simbolismo animal reflete não os animais, mas a idéia que o homem tem deles e, talvez definitivamente, a idéia que tem de si próprio.


Jean-Paul Ronecker (Escritor e Mitologista, autor do livro

"Le Symbolisme Animal")

No comments: